O racismo e a homofobia no Brasil têm raízes profundas na história e nas estruturas sociais, moldadas pelo legado colonial e pela hierarquia racial. Embora suas origens e dinâmicas sejam diferentes, ambos compartilham algo essencial: a exclusão do “outro”, aquele que é considerado fora da norma. Essa exclusão se manifesta na construção de um ideal de corpo, comportamento e identidade — branco, heterossexual e masculino — que serve de base para a marginalização de quem foge a esses padrões.
Na psicanálise, entendemos que cada sujeito é único e, por isso, as generalizações sobre racismo e homofobia só fazem sentido quando pensadas a partir da singularidade de cada experiência. O sofrimento gerado por essas opressões não se expressa apenas de maneira coletiva, mas atravessa profundamente a subjetividade de cada indivíduo. Um homem negro e LGBTQIA+, por exemplo, lida não só com a discriminação racial, mas também com o preconceito por sua sexualidade, vivenciando uma dupla exclusão.
Estudiosos da psicanálise, como Frantz Fanon, abordaram as consequências do racismo sobre a subjetividade, destacando o impacto psicológico dessas opressões. Na mesma linha, psicanalistas contemporâneos têm explorado como a homofobia afeta a formação do sujeito, mostrando que a exclusão sexual também deixa marcas profundas.
A psicoterapia desempenha um papel crucial ao oferecer um espaço de escuta para que o sujeito possa refletir sobre si mesmo, suas relações e o lugar que ocupa na sociedade. Nessas discussões, a interseccionalidade — conceito que nos lembra da sobreposição de opressões, como a teoria de Kimberlé Crenshaw nos ensina — é fundamental. Compreender que o racismo e a homofobia não agem de forma isolada, mas se cruzam e se amplificam, é essencial para qualquer análise e prática clínica.
Vivemos em uma sociedade onde a violência racial e sexual se manifestam tanto de forma aberta quanto velada. Piadas, micro agressões e exclusões disfarçadas são formas sutis, mas dolorosas, de perpetuar essas opressões. Por isso, a psicoterapia busca ajudar a desconstruir essas normas culturais, permitindo que o sujeito se veja além dos rótulos e expectativas impostas.
É importante lembrar que o sofrimento causado pelo racismo e pela homofobia não está só nas grandes violências. Está, também, nos pequenos gestos, nas exclusões cotidianas e na forma como a cultura nos diz quem devemos ser. Criar um espaço onde o sujeito possa se questionar e se libertar dessas imposições é um dos grandes papéis da psicoterapia na luta contra esses sistemas de opressão.
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